O Arquivo Secreto do Vaticano há muito que de secreto já só tem o nome. Para o comprovar, visite a site www.vatican.va.
Neste endereço electrónico está parte significativa dos 85 quilómetros de estantes que, desde 1198, guardam os documentos oficiais da Santa Sé.
Tome-se como exemplo o caso das cartas de protesto de Miguel Ângelo contra ordenados em atraso… É que o artista poderoso, que à data havia já pintado o ‘Juízo Final’, era um homem com consciência social.
Miguel Ângelo tinha então 72 anos e já era mais a vontade do que a capacidade para aceitar a empreitada de desenhar e construir a cúpula da Basílica de São Pedro. Aceitou. Na carta que, em Janeiro de 1550, escreveu ao bispo de Cesena, Miguel Ângelo dava conta de como, com a morte do Papa, os operários se portavam como soldados na defesa das obras e dos materiais de construção, “com perigo de vida e sem qualquer pagamento desde há quase três meses”.
E o mestre dos arquitectos finalizava com uma informação ultimato: os seus homens “não podem continuar assim”… Miguel Ângelo não conseguiu viver para ver concluída a cúpula de São Pedro, mas, em contrapartida, a sua reivindicação foi conseguida.
Mas não são só as cartas de protesto com final feliz que asseguram o espólio de uma biblioteca e a do Arquivo Secreto do Vaticano não é excepção.
Neste contexto, sempre se avisa que são mais do que muitos os documentos ali registados, mas há truques para a consulta.
E entre os documentos disponíveis em edição virtual temos, por exemplo, o pedido de anulação do casamento de Henrique VIII com Catarina de Aragão ou os processos de Galileu e Lutero, cujas ideias reformistas chocavam com os interesses da Igreja. O tempo lhes faria justiça…
Desde que, em 1881, o Papa Leão XIII começou a facilitar a consulta deste milenário acervo, o Arquivo Secreto do Vaticano rapidamente se converteu num dos mais importantes centros de investigação histórica do Mundo.
Com efeito, mais e menos trágicas, mais e menos cómicas, estas são histórias da História como a aprendemos nos livros. Mas, agora, à distância de um ‘clic’.
Os documentos oficiais mais antigos de que há conhecimento estão à guarda desta instituição que, mesmo em período de pós-secretismo, continua a chamar-se Arquivo Secreto do Vaticano… E mais completa seria esta babilónica biblioteca não fossem as invasões napoleónicas que tiveram como consequência directa para o espólio o seu despojamento pelo invasor que, apropriando-se de parte significativa, a transferiu para Paris.
Apesar da Santa Sé ter recuperado muito deste saque, entre 1815 e 1817, deste vaivém resultou o extravio de muitos documentos. Alguns estadistas, porém, têm-se dedicado a corrigir os erros dos seus antecessores. O presidente de Gaulle, por exemplo, em 1964, fez sair da biblioteca de Paris para a do Vaticano, ao cuidado de Paulo VI, uma carta de Teresa de Ávila ao Padre Ambrósio Mariano.
O Arquivo Secreto do Vaticano está ordenado por seis categorias. São elas: Curia, Delegações Papais, Singulares ou Familiares, Concílios, Ordens Religiosas, Mosteiros e Confrarias, Outros.
Além do suporte virtual, o acervo do Arquivo Secreto do Vaticano está disponível em outros suportes: CD-ROM e DVD, sendo a reprodução de documentos a cores e a preto e branco.
Os números mais actuais relativos ao Arquivo Secreto do Vaticano revelam 630 categorias de arquivos que ocupam 85 quilómetros de estantes e cobrem mais de 800 anos de História em tempo contínuo.