domingo, 18 de julho de 2010

ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO

A Oração de São Francisco de Assis

Por Ahabew Manas

É muito conhecida a história do santo fundador da Ordem dos Franciscanos, nascido em Assis, Itália, em 1181, e falecido em 1226, na mesma localidade. Muitas foram suas obras e magníficos são seus escritos deixados. Teremos a oportunidade de comentar sua vida posteriormente.

Vejamos a seguir alguns pontos importantes da oração que leva seu nome.

A oração foi trazida a público por volta do século XII. Embora anônima, fora atribuída a autoria a São Francisco, pela similaridade de seu texto com os ensinamentos do Mestre de Assis.

Apresentemos a oração:

Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz.

Onde houver ódio, que eu leve o amor,

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão

Onde houver discórdia, que eu leve a união,

Onde houver dúvidas, que eu leve a fé,

Onde houver erro, que eu leve a verdade,

Onde houver desespero, que eu leve a esperança,

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,

Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Mestre, fazei que eu procure menos

Ser consolado do que consolar,

Ser compreendido do que compreender,

Ser amado do que amar.

Pois é dando que se recebe,

É perdoando que se é perdoado,

E é morrendo que se vive para a vida eterna.

A riqueza da mensagem contida na oração é indiscutível. É uma verdadeira lição de solidariedade e amor ao próximo, bem como de conforto e resignação religiosa.

Procuremos analisá-la sob a óptica esotérica. Ou seja, como ela pode ser entendida e usufruída para o crescimento espiritual. O foco, aqui, não é a relação do homem com seu semelhante, mas do homem com sua interioridade.

Com a finalidade de estudá-la, podemos dividir suas passagens em alguns grupos.

1) Invocação.

Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz.

O eu, a parte encarnada de nosso ser, clama pela orientação do Eu Superior (Senhor) e lhe pede direcionamento, vez que declara o desejo de ser instrumento de seu uso.

A paz aqui é a interior, a verdadeira paz. É o amparo espiritual, incondicional, independente das situações externas. É a paz que revigora o espírito e nos impregna da alegria que nenhum prazer terreno pode nos oferecer.

2) Conciliação

Onde houver ódio, que eu leve o amor,

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão

Onde houver discórdia, que eu leve a união,

Onde houver dúvidas, que eu leve a fé,

Onde houver erro, que eu leve a verdade,

Onde houver desespero, que eu leve a esperança,

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,

Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Mais do que abafar um atributo negativo por outro positivo, o propósito é a busca pelo equilíbrio. É a harmonia entre os opostos.

Tudo no Universo possui caráter bipolar. Esta é a Lei. O dia existe, porque existe a noite. O céu, porque existe terra. O bem, por causa do mal. E vice-versa. O aspecto negativo não pode prevalecer sobre o positivo, da mesma forma que o positivo não pode, sobre o negativo. A Ordem é Harmonia. Não supremacia.

Quando um pólo está oculto ou ofuscado pelo outro (no caso, o “ódio”, “ofensa”,... estão em excesso sobre “amor”, “perdão”,...), há necessidade de resgatar o equilíbrio entre eles.

Não estamos suscitando ser saudável viver em ódio, ofensa com outras pessoas. Como dissemos acima, o enfoque neste estudo não é ético-moral, mas esotérico. Não estamos falando em características perniciosas e virtuosas, mas de polaridade negativa e positiva, presente em todos os seres humanos e em tudo no Universo, abaixo de Seu Criador.

Do equilíbrio entre o negativo e positivo, nasce o terceiro elemento, o Filho, transcendente a seus geradores. E aquilo que transcende não é bom, nem ruim. Está acima das qualidades. É divino.

Novamente, a busca do “onde houver” não é pela observação conjuntural do ambiente externo. É dentro de si. É na introspecção. Dentro de nós, consciente ou inconscientemente, reside ódio, ofensa, discórdia, dúvidas. Vezes sutis, vezes gritantes. Cabe a nós localizá-los e levá-los luz de seus respectivos contra-pontos (amor, perdão, união, fé...). Estes são adquiridos pela paz que o Senhor derrama sobre nós, através de nosso esforço perene de desenvolvimento espiritual, através do estudo e da prática esotérica.

3) Ação

Mestre, fazei que eu procure menos

Ser consolado do que consolar,

Ser compreendido do que compreender,

Ser amado do que amar.

Nesta parte, ressalta-se a diligência, a fortaleza e o empenho.

A conciliação dos opostos, propósito da empreitada é um trabalho gradual e exigente.

A pessoa que encontrou consolação, compreensão e amor dentro de si está ligada à Verdade. E não encontrará a menor dificuldade de oferecê-los, a partir deste momento, a seus semelhantes. Esta é a imitação da Paixão de Cristo.

4) Conclusão

Pois é dando que se recebe,

É perdoando que se é perdoado,

Aquele que trabalha para seu crescimento espiritual dá a si mesmo. E recebe as graças de seu Eu Superior.

O perdão, conforme discorrido nos itens “6” e “7” do texto O Pai Nosso, é refere-se a nossa libertação dos apegos emocionais e ao resgate cármico de nossos erros.

E, finalmente,

E é morrendo que se vive para a vida eterna.

A recompensa máxima! A sublevação do espírito. Não é menção à morte física, mas a morte de nossas ilusões, apegos. A morte de nossa ignorância e o nascimento de nossa nova Consciência. A consciência do Divino e o contato com ele. E a confirmação da eternidade de nossa alma, a se desvencilhar da temporalidade física.

A Imortalidade é um atributo divino. Aquele que a encontrou, encontrou o Deus dentro de si.